Imposto sobre teletrabalho?

Imposto sobre teletrabalho

Recentemente surgiram algumas noticias sobre um relatório entregue pelo Deutsche Bank, sobre o efeito do Teletrabalho na economia mundial.

Este relatório sugere uma tributação que seria aplicada a 5% sobre o salário bruto aos trabalhadores em teletrabalho. Este valor não remove aqueles que o estão em tempo parcial, ou seja, aqueles que usufruem de um sistema hibrido (algum tempo por semana em casa e outro no escritório) seriam taxados da mesma forma que aqueles que estão 100% remoto.

Este estudo assinado pelo Luke Templeman da Deutsche Bank, afirma que quem trabalha remotamente tem a possibilidade de se desligar da economia com facilidade, com esta a necessitar do factor presencial para funcionar.

Segundo o relatório, pessoas que estão que trabalham remotamente, conseguem poupar mais (em teoria) do que pessoas que não estão, alegando que estas acabam por não consumir serviços como transportes, restauração, vestiário e também serviços de lavandaria.

A aplicação desta taxa, segundo Luke Templeman, serve para apoiar os trabalhadores cujo os empregos pedem deslocações diárias, mas também para a recuperação económica. Este valor também pode ser aplicado para ajudar desempregados e empresas que faliram durante a pandemia.

No exemplo dos estados unidos, este imposto iria render cerca de 48 mil milhões de dólares. Defende o economista, que o montante podia ser direcionado para pagar subsídios de 2.2 mil euros por ano a trabalhadores de baixos rendimentos, ou empregados de empresas em risco de falência.

O imposto a criar deve ser aplicado sobre trabalhadores remotos, mas excluir independentes e trabalhadores por conta de outrem com remunerações baixas, por exemplo, os que ganham o salário mínimo ou menos que isso. O Deutsche Bank afirma que também os mais jovens (até 25 anos) não sejam sujeitos a esta taxa.

Algumas questões sobre o trabalho remoto

É verdade que trabalhar a partir de casa trás algumas vantagens, especialmente o ter de perder horas em transportes, trânsito, acabando por chegar tarde ao emprego. Isso poderá levar a pessoa realmente a ter algumas valias a nivel financeiro.

O que não foi muito abordado durante o relatório, e mesmo matérias que usem para investigar, é a contra partida de trabalhar de casa.

Já falei aqui no blog de várias formas de ter maior concentração em casa, ou Ferramentar para aumentar a produtividade, pois trabalhar de casa pode-se tornar bastante complicado, colocando uma pressão mental enorme, devido a vários fatores. Também escrevi um artigo sobre Como ser produtivo em trabalho remoto, com o objetivo de ajudar quem tem maior dificuldade nesta realidade, a aumentar a sua produtividade, fugindo das distrações.

Falando de Portugal, poucas empresas entregam aos seus colaboradores material de escritório para trabalharem de casa. Todas as necessidades são pagas pelo trabalhador. Existem algumas exceções, mas mesmo em muitos casos, os computadores acabam por ser pessoais, e todos os problemas que existam com esse material, são também pagos pelo colaborador.

Quem precisar de material extra, terá de retirar do seu bolso, tal como também a fatura a água e da luz aumenta. Quem trabalha com internet, pode em muitos casos ter de melhorar o seu serviço em casa, de forma a conseguir trabalhar dentro de determinados parâmetros e de forma comoda.

Também podemos deixar em consideração, que estando a trabalhar de casa, exige outras capacidades a nível de concentração, aumento das horas de trabalho (em muitos casos, mais do que deveria) e sem qualquer retorno financeiro nesses casos.

O caso de Portugal

Já falei mais acima sobre alguns casos em Portugal, mas vou apresentar alguns dados estatísticos.

Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, 14.2% da população empregada em Portugal está em regime de Teletrabalho, o que se traduz para 681 mil trabalhadores portugueses, no terceiro trimestre de 2020.
No total, 681,9 mil pessoas indicou ter exercido a sua profissão sempre ou quase sempre em casa na semana de referência ou nas três semanas anteriores, menos 37,7% (412,5 mil) que no trimestre anterior.

Vamos contar que cada trabalhador que trabalha de casa receba 1500€ brutos mensais. A este será retirado 5%, equivalente a menos do seu ordenado 75€. Sendo que temos 681 mil pessoas a trabalhar de casa, isto daria mensalmente ao Estado mais 51 075 000€.

Estamos a falar de estudos que foram feitos durante uma pandemia, em que o poder de compra caiu, e que muitas pessoas evitam ao máximo ficar expostas ao exterior, de forma a não contrair a doença.

Segundo outros meios de comunicação, o Ministério das Finanças não quer abordar o tema, por achar que ainda não é o tempo indicado. Também o mesmo, indica que no momento em que este tema for abordado, irão querer o parecer dos parceiros sociais.

Conclusão

Por mais que consiga entender o impacto que menos pessoas na rua possa causar a economia, não acho de todo que fazer um estudo destes durante uma época pandémica seja viável. Neste caso apenas apresenta um caos ainda mais desnecessário numa crise que se avizinha complicada.

Em tempos normais, quem trabalha de casa usa qualquer pretexto para sair de casa, pois estar constantemente fechado no seu local de trabalho, que passa a ser a sua casa, deixe de ser positivo. Estas saídas em muitos casos implicam consumo.

Os pretextos utilizados no relatório para empregar o dinheiro, também não parecem ser os mais geniais. Indicar que trabalhar de casas só trás regalias e praticamente nenhum prejuízo, não é colocar todas as variáveis em cima da mesa. Existem muitas despesas a encargo de quem trabalha de casa, que não são cobertas pela entidade empregadora, pois dessa forma não trás vantagem a empresa ter colaboradores a trabalhar remotamente, algo que abordei em “Devem as empresas adoptar o trabalho remoto?”.

Trabalhar em casa não implica ter um lucro de 100% em relação a remuneração.