As empresas temem o trabalho remoto?

trabalho_remoto

Tenho falado aqui no blog várias vezes sobre trabalho remoto. Foco-me especialmente em dicas, as mesmas que me ajudaram a melhorar a minha performance a trabalhar em casa.

Sou defensor do trabalho remoto por vários motivos. Um dos principais motivos, será sempre o tempo. Menos tempo em viagens, mais tempo produtivo. Para quem continua a acreditar que quem trabalha em casa, trabalha menos ou tem mais tempo disponível… isso seria um sonho tornado realidade.

Nem em todos os casos, passar do escritório para casa, foi rentável financeiramente. No meu caso, o valor dos transportes, acabou diluído nas contas da água, luz e alimentação (como mais em casa). Tive de remodelar parte da minha sala, torna-la mais “agradável”, sendo que é tanto o meu local de lazer, como de trabalho. Foi necessário arranjar mais espaço, melhorar o equipamento que usava diariamente, como ecrã, cadeira, rato, mesa e mesmo iluminação.
Em nada foi um investimento barato, sendo que passo mais de 12 ou 13 horas por dia a trabalhar, sentado naquele local.

Não tive qualquer apoio financeiro extra, para fazer algumas dessas alterações. Tive avarias e substituições de equipamentos, pagos do meu bolso. Não estou a reclamar qualquer valor, mas apenas a dar uma visão aos leitores, que ainda vêm o trabalho remoto, como apenas um luxo.

Não me entendam mal, sou privilegiado! Tive o privilégio de ter trabalho, enquanto a maioria das pessoas tiveram que ficar fechadas em casa, durante os piores períodos da pandemia. Tenho o privilégio de continuar a ter trabalho, depois de uma fase complicada, que muitos perderam o seu trabalho.

Meus senhores e senhoras, posso também garantir, que foi a fase da vida, em que mais horas trabalhei! Trabalhei madrugada dentro, coisas que não seriam possíveis de fazer num escritório. Possíveis seriam, mas certamente não com o mesmo foco e empenho, com que foi possível fazer em casa. Não me queixo das horas a mais que trabalho, pois acabo por ganhar essas horas por estar em casa, por não precisar de entrar num comboio e demorar 2 horas diárias em viagens.

Sei que vivemos num país, em que as mentes ficaram no passado!

Vantagens para as empresas

As vantagens para as empresas são claras, tal como para o colaborador. Se analisarmos os custos que uma empresa tem, especialmente se for pequena, esta diferença pode significar o empurram necessário para a sua expansão. O problema de quando falamos em expansão de uma empresa, é que ainda se olha muito para a infraestrutura. Por outras palavras, para muitas empresas, o significado de expansão passa muito por arranjar um local maior, para colocar os seus colaboradores.
Isto não significa que a condição para os colaboradores melhore, apenas que vai existir um espaço, onde poderá existir uma maior quantidade de pessoas.

Se esta mentalidade mudar, podemos olhar para o fator expansão com outros olhos. Contratar mais pessoas, independentemente na sua zona geográfica, diminuir o espaço físico da empresa, levando a uma diminuição do aluguer pago pelo espaço.

Outros fatores que também contribuem para essa poupança, será as contas de água e luz, que acabaram por ser bem menores. Com menos colaboradores e um espaço menor, ambas as contas acabam bem menores.

O último fator que coloco em evidencia, passa também pela manutenção do espaço, desde serviços de limpeza e outros.

A nível de colaboradores, isso vai sempre depender de empresa para empresa. Analisando alguns casos, chego a conclusão que alguma empresas pagam ao funcionário um valor pela quantidade de água, luz e internet que os mesmos usam em horário laboral. Estes ditos prémios, são calculados de forma diferentes de empresa para empresa, mas nos casos que tive acesso, muitos deles acabam por ser vantajosos para as empresas de qualquer forma. Aqui fica uma ajuda para o funcionário lidar com algumas questões mais orçamentais.

Existem também casos, em que a empresa acaba por ajudar o funcionário em algumas despesas com materiais que são necessários a atividade, como materiais de escritório e outros elementos chave.

Mas estes são casos excecionais, muitas vezes as empresas não entregam qualquer apoio. Não que isso seja mau, vai sempre depender de caso para caso, e deve sempre ser bem analisado.

Vantagens para os colaboradores

Já falei noutro artigo aqui no blog, como foi esta aventura de voltar a trabalhar em casa. Por um lado, não era novidade, por outro, o contexto era diferente. No entanto, desde que trabalho em casa, desde o início da pandemia, que noto que a mentalidade das pessoas é 8 ou 80.

Basta vermos por comentários sobre a crise, de sermos tratados como “burgueses” e que somos os responsáveis da economia não evoluir em tempo de crise. O trabalho remoto não é novidade, pelo menos em países mais evoluídos. Por cá, continua a ser uma coisa estranha, um bicho de sete cabeças, que complica a vida a muita gente.

Mas analisemos do ponto de vista do colaborador.

Sou privilegiado, por ter estudo uma profissão que me permite poder trabalhar de casa. Gosto do que faço, trabalho com aquilo que estudei, algo que muitos não tiveram a sorte de conseguir fazer. Mas desmerecer esse privilégio, porque outro não conseguem ter, é fruto da mentalidade pequena que ainda temos.

Existe casos em que muitas pessoas pouparam bastante dinheiro, com trajetos, manutenção dos carros, e outros fatores. No meu caso, e como explico noutro artigo, não foi assim tão vantajoso. Aquilo que poupei, de transportes públicos, acabou diluído em contas de água, luz e alimentação. Mais uma vez, entra o tal “caso a caso”. Não é estranho que nos coloquem a todos no mesmo saco, e façam contas por alto, acabando a dizer que “poupamos muito”! Há casos que sim, e casos que não!

Aquilo que é mais vantajoso, em alguns casos, é uma maior flexibilidade de horários, de conseguir compensar até mais tarde. Em alguns casos, que não o meu, até podemos ir ao ponto de começar a trabalhar mais tarde, e terminar mais tarde, dependendo da empresa. No meu, isso não é possível! Começo todos os meus dias com reuniões, sendo esse o meu “picar o ponto”.

Uma luta que tive, por exemplo, durante o lockdown, foi o peso. Se tivesse no escritório, certamente não iria ter o tempo, para conseguir fazer o meu treino, ter cuidado com a minha saúde como tenho tido atualmente. Por um lado, é mais relaxante conseguir esse tempo. Por outro, é a sobrecarga de trabalho, mas isso seria uma desvantagem e não vantagem!

Não perder tempo em viagens exaustivas, transito e outros que tais, é uma vantagem, não só para o colaborador, mas por exemplo, para o ambiente. Quantos menos carros circularem por conta de deslocações para o escritório, melhor. A quantidade de eletricidade que eu e os meus colegas, em conjunto, cada um em sua casa, gastamos, é de longe a quantidade desperdiçada pelos enormes escritórios onde iriamos estar. Por isso, aqui morre a teoria que a dispersão das pessoas, levaria a um gasto ainda maior. Isso é mentira. Não preciso de ter a mesma quantidade de luzes, bastando-me uma luz de secretaria.

Outra nota que acho também importante, é o conforto. E não, não é o conforto de estar em casa, porque em muitas situações deixa de o ser. Mas sim, o conforto de conseguir trabalhar. Como assim? Fácil, deixem-me explicar!
Uma empresa tem de comprar material para centenas de pessoas, em alguns casos milhares. Certamente, poucas são as empresas que se preocupam se estão a comprar cadeiras confortáveis para todos. Cada pessoa tem uma necessidade diferente, e a mesma cadeira pode não ser a ideal para todas elas. Em casa, um colaborador, vai-se preocupar apenas consigo mesmo, com o seu espaço e necessidade. Aqui podes simplesmente optar por uma cadeira mais cara, ou uma secretaria melhor. Criar um espaço que te seja mais satisfatório, e que te permita trabalhar com uma melhor paz de espírito, ser mais produtivo e feliz. Acreditem que acabar um dia com uma dor de costas, e ainda ter que durante uma hora, fazer uma viagem em transportes, mais desconfortável ainda, não é a melhor coisa do mundo!

“Olhos que não vêm, coração que não sente!”

Uma coisa que notei, por muitos sítios por onde passei, e que a preocupação da chefia, não é naquilo que fazes ou deixas de fazer. De qualquer das formas, estejas ou não no escritório, eles saberão sempre quem trabalha ou não. É certo que dentro de um escritório, o controlo pelas camaras de vigilância, é comum. Demasiado até!

Mesmo dentro do escritório, ninguém está 8 horas do dia a ver o que estas a fazer. Estar sentado ao computador, ou qualquer que seja o teu posto de trabalho, é sinonimo de produtividade. Pelo menos não deveria!

Mas muitas das coisas que percebi ao longo do tempo, é que por esses locais que passei, o importante não era o que fazias, mas o que vias os outros fazer! Estranho? Não tanto. Reparem, o fato de vocês não verem o que os vossos superiores fazem, pode ser uma mancha para os mesmos. Não que nós, colaboradores, ou trabalhores, como gostares mais que te chamem, tenhamos o interesse nisso. Mas muitos deles têm, em que tu vejas o quanto atarefados eles são. Quanto mais atarefados eles parecem estar, ou ser, na cabeça deles, mais produtivos nos vamos pensar que eles são.

Não quero com isto dizer, que alguns não o sejam. Mas eles querem que nós vejamos isso!

Isto é estranho, mas podem pesquisar pela internet, e perceber que isto é real. Acontece mais do que nos pensamos. Muitas das razoes que os empregadores querem que as pessoas estejam nos escritórios a trabalhar, normalmente é “por causa do contato humano”. Esse contato humano, pode existir de diversas formas.
A primeira delas, é com eventos realizados pelas empresas, onde as equipas se encontram para falar de temas, de trabalho ou não. Em muitas empresas pelo mundo fora, todos os meses se juntam para conviver, fazer palestras sobre temas diversos. A segunda, pode ser por meio de idas esporádicas ao escritório, em momentos chave de um projeto, o chamado trabalho em regime “hibrido”.

Note-se que na primeira, as pessoas estão num ambiente mais relaxado, onde podem criar laços e ter tempo para se conhecer. Na segunda, estão em âmbito de trabalho, o que leva a menos tempo para uma conversa mais pessoal.

São escolhas de cada empresa, e de cada trabalhador. Cada um poderá decidir porque caminho quer ir, e qual se sente mais confortável. Existe pessoas que não gostam de trabalhar a partir de casa, e as empresas podem, e devem, dar uma escolha a estes trabalhadores.

Quem será o vencedor?

Aqui vai sempre existir um perdedor: o trabalhador!

Nunca seremos a parte mais importante, ainda, para a maioria das empresas. Somos um meio para atingir um fim, o lucro. É normal! Não vou fingir que estou ofendido com isso. No entanto, existem cada vez mais empresas que se preocupam com quem la trabalha, como se sentem, e qual o caminho que querem seguir. Em muitos casos, existem colaboradores a mudarem de áreas de atividade, dentro da própria empresa.

Mas no mercado, aí sim, vão existir muitos vencedores. Não tenho nenhuma bola de cristal, mas basta seguir pela logica.

Os mercados funcionam a base do dinheiro, correto? Então, por logica, quem tiver mais dinheiro e o conseguir aplicar da melhor maneira, ira crescer mais rápido! Sendo assim, se eu tiver uma empresa com 100 trabalhadores, colocar 70% dessas pessoas a trabalhar de casa, significa que ganho 70% de espaço. Esse espaço reflete-se em menos valor de aluguer e outros gastos mencionados acima. Isso fará com que fique com mais dinheiro em caixa, para que possa investir noutras áreas que achar que são vantajosas. Posso contratar mais vendedores, para venderem os meus produtos. Posso contratar mais pessoas noutros setores, por exemplo marketing, para melhorar a comunicação da minha empresa. Posso dar aumentos, para manter os funcionários que já tenho, mante-los motivados.

Esta empresa, acima, já está um passo a frente de outras, que se vão manter em escritórios caros, para conseguir manter todos os colaboradores debaixo de olho, e para os executivos mostrarem o quanto atarefados são.

Conclusão

É logico que, como em tudo, a mentalidade é algo que leva gerações a mudar. Não será uma coisa de um dia para o outro. Vamos continuar a ter pessoas que acham que o trabalho remoto não devia existir, que quem tem essa possibilidade tem vantagem sobre os demais.

Os executivos continuam mais preocupados no que os funcionários pensam de si, e se estão o dia todo sentados ao computador, em vez de se preocuparem, se podem se alguma forma, melhorar a sua produtividade.

Existe muitos mais por trás do trabalho remoto, que muitas pessoas não vêm, ou não querem ver. Enquanto empresas, podemos analisar as vantagens monetárias para as mesmas, e o quanto benéfico isso pode ser para os trabalhadores.